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13. HEROES AND ANTI-HEROES: MERIT AND SHAME IN THE ANCIENT WORLD
Panel Convenors
Maria de Fátima Silva (University of Coimbra, Centre of Classical and Humanistic Studies) [fanp13@gmail.com]
Susana Marques Pereira (University of Coimbra, Centre of Classical and Humanistic Studies) [smp@fl.uc.pt]
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[EN]
The antinomy 'Heroes and anti-heroes' contains a diverse range of behaviours related to the supporting values of the ancient cultural tradition. The concept of ‘hero’ is archaic, and corresponds to the image of a Greece populated by superior men and women, stronger, braver and more beautiful than those who followed. They were members of a glorious race which preceded an inevitable decadence. First identified as warrior courage, their superiority evolves to spiritual perfection. The Homeric hero lives and dies to incarnate a certain ideal, a certain quality of existence. Courage, wisdom, moderation, excellence - or their opposite - as personal characteristics of collective effect, have known, by the very flexibility of their content, an evolution of meaning over time. Glory - that is, fame – or shame - that is, censorship - are, on the part of the community, the reaction to these patterns of behaviour.
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Each era, absorbing the tradition that preceded it, imprinted on it a new sensitivity in consonance with the flow of time and the historical context. From the hero configured by warlike virtues, the same epithet assumed a 'political' outline, and, later, an increasingly personalised mark. Not all the so-called 'heroes' belonged to the heroic age or were descendants of gods and mortals. Also ordinary men, who managed to distinguish themselves from their peers, received this honour after death and came to enlarge the gallery consecrated by tradition. It is, therefore, about paradigms that we speak of. The Homeric hero, as well as that following his example - the Greek man in general -, is not truly happy if he doesn’t assert himself as the first in his group; soon, the warrior hero was followed by the one who expressed, as the main mark of arete, the search for personal and collective stability, translatable into the supreme value of eudaimonia.
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Along with this virile hero - military or political - female figures replicated equivalent values. The Penelopes competed with the Ulysses, the Antigones challenged the Creontes, or even the Ifigenias opposed the Agamemnons.
As a manifestation of recognition, heroisation has become a practice expressed by rituals that have developed over the centuries. This was the privilege of great mythical heroes, but also of founders or saviours of cities, or, in general, of those who, by their excellence, surpassed human ephemerality.
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No literary expression has escaped this line of evolution. Epic and lyric poetry, theatre, novel, or even historical narrative or philosophical reflection, in their evaluation of human affirmation before all the forces that condition it, constitute multiple models of expression of 'heroes'; while the comic or satirical caricature was in charge of their negative, the 'anti-heroes'. A particular convention also served, in a plastic version, to suggest their merits and participation in a universe of immortals.
It is, therefore, the criterion of excellence that underlies them - or its opposite - and the polymorphism to which the flow of centuries has subjected it in Antiquity, which we propose as a topic of discussion.
Proposals must be sent to: Maria de Fátima Silva – fanp13@gmail.com; Susana Marques Pereira – smp@fl.uc.pt
Accepted languages: Portuguese, Spanish, English
Duration of the paper: 20min.
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Abstracts should have:
- Title of communication
- University
- Abstracts (max 250 words)
- Keywords (5 to 10 words)
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[PT]
Na antinomia ‘Heróis e anti-heróis’ está contida uma gama diversificada de comportamentos que confrontam valores de suporte de toda a tradição cultural greco-latina. O conceito de herói é arcaico, e corresponde a uma Grécia povoada de homens e de mulheres superiores, mais fortes, mais valentes e mais belos do que os que se lhes seguiram. Eram membros de uma raça gloriosa que precedeu uma inevitável decadência. Da valentia guerreira, a sua qualidade vai evoluindo para a perfeição espiritual; o herói homérico vive e morre para encarnar um certo ideal, uma certa qualidade de existência. Coragem, sensatez, moderação, excelência – ou o seu contrário – como caraterísticas pessoais de efeito coletivo, foram conhecendo, pela própria flexibilidade do seu conteúdo, uma evolução de sentido ao longo dos tempos. A glória – ou seja, a fama -, ou, no pólo oposto, a vergonha – ou seja, a censura -, são, por parte da comunidade, a reação a esses padrões de comportamento.
Cada época, ao absorver a tradição que a precedeu, imprimiu nela uma nova sensibilidade em consonância com o fluir do tempo e o contexto histórico. Do herói configurado por virtudes guerreiras, o mesmo apodo assumiu um contorno ‘político’, e, posteriormente, uma marca cada vez mais pessoalizada. Nem todos os chamados ‘heróis’ pertenciam à idade heróica ou eram descendentes de deuses e mortais. Também homens comuns, que lograram distinguir-se dos seus pares, receberam essa honra após a morte e vieram alargar a galeria consagrada pela tradição. É, portanto, em termos gerais, de paradigmas que falamos. O herói homérico, como também, seguindo o seu exemplo, o homem grego em geral, não é verdadeiramente feliz se não se afirmar como o primeiro no seu grupo; logo, ao herói guerreiro, seguiu-se aquele que exprimiu, como principal marca de arete, a procura da estabilidade pessoal e coletiva, traduzível no supremo valor da eudaimonia.
A par desse herói viril – militar ou político -, figuras femininas replicaram valores equivalentes. As Penélopes rivalizaram com os Ulisses, as Antígonas competiram com os Creontes, ou mesmo as Ifigénias contrapuseram-se aos Agamémnones.
Como uma manifestação de reconhecimento, a heroização tornou-se uma prática expressa por uma ritualística que se desenvolveu ao longo dos séculos. Esta foi privilégio de grandes heróis míticos, mas também de fundadores ou salvadores de cidades, ou, em geral, de quem, pela sua excelência, superou a efemeridade humana.
A esta linha evolutiva, nenhuma expressão literária ficou alheia. Épica, lírica, teatro, novela, ou mesmo a narrativa histórica ou a reflexão filosófica, na sua avaliação da afirmação humana perante todas as forças que a condicionam, constituem outros tantos modelos de expressão de ‘heróis’; enquanto a caricatura cómica ou satírica se encarregou do seu negativo, os ‘anti-heróis’. Uma convenção particular serviu também, em versão plástica, para sugerir-lhe os méritos e a pertença a um universo de imortais.
É, portanto, o critério de excelência que lhes está subjacente – ou o seu antónimo -, e o polimorfismo a que o fluir dos séculos a sujeitou na Antiguidade, o que propomos como tema de discussão.